segunda-feira, 5 de março de 2007

CULTURA AFRICANA



Carybé: versatilidade formal do maior cronista visual da Bahia, para onde se mudou nos anos 50


Alto, elegante e magro, envolto em paletós de tweed e foulard de renda negra no pescoço, sempre que a temperatura permitia, Hector Julio Paride Bernabó era argentino de nascimento, italiano de formação, carioca quando se tornou brasileiro e cidadão do mundo com seus murais nos aeroportos de Nova York e Londres.
Quando morreu do coração, durante uma sessão no terreiro de candomblé Ilê Axê Opô Afonjá, em Salvador, ele já era tão baiano quanto outro estrangeiro, o etnólogo francês Pierre Verger, havia sido em vida.
Carybé, como era conhecido, tinha 86 anos, estava terminando novas telas e não podia mais subir escadas, proibido pelo seu médico. Ainda assim, insistia em continuar produzindo.
Pintor de recursos limitados, mas um desenhista brilhante, pertence à mais depurada crônica visual da Bahia, que tanto pode ser vista nos desenhos que criou para os livros de Jorge Amado quanto na vasta galeria de tipos de deuses do candomblé.
Amante da vida, Carybé era tocador de pandeiro, bom dançarino e contador de histórias. Acima de tudo, tinha um título de Obá de Xangô, o posto mais alto dado pelo candomblé, seu maior orgulho.
"Sou amoroso e devoto da religiosidade afro-brasileira, de seus deuses modestos e humanos, que hoje se defrontam com estes deuses contemporâneos, terríveis e vorazes, que são a tecnologia e a ciência", ele dizia.

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