segunda-feira, 5 de março de 2007

POEMA AFRO

O Choro de África
O choro durante séculos nos seus olhos traidores pela servidão dos homens no desejo alimentado entre ambições de lufadas românticas nos batuques
choro de África nos sorrisos
choro de África nos sarcasmos no trabalho
choro de África
Sempre o choro mesmo na vossa alegria imortal meu irmão Nguxi
e amigo Mussundano círculo das violências mesmo na magia poderosa da terra e da vida jorrante das fontes e de toda a parte e de todas as almas e das hemorragias dos ritmos das feridas de África
e mesmo na morte do sangue ao contato com o chão mesmo no florir aromatizado da floresta mesmo na folhano frutona agilidade da zebrana secura do deserto na harmonia das correntes ou no sossego dos lagos mesmo na beleza do trabalho construtivo dos homens o choro de séculos inventado na servidão em histórias de dramas negros almas brancas preguiças e espíritos infantis de África as mentiras choros verdadeiros nas suas bocas o choro de séculos
onde a verdade violentada se estiola no circulo de ferro da desonesta forca sacrificadora dos corpos cadaverizados inimiga da vida fechada em estreitos cérebros de máquinas de contar na violência .
O choro de África é um sintoma
Nós temos em nossas mãos outras vidas e alegrias desmentidas nos lamentos falsos de suas bocas - por nós!
E amore os olhos secos.
(Agostinho Neto - Poemas, 1961)

Um comentário:

Gerência de Educação disse...

Lindo poema. Verdadeiro. Passa muita emoção. Não só o choro da África é um sintoma, mas toda a indiferença que sempre fez parte, de uma forma ou de outra, do ser humano. Somos uma espécie em extinção.... Pela omissão, indiferença e alienação.